IMPRINTS ON THE WALL OF TIME

Uma breve entrada no mundo de Knoll

É uma questão de luz. Tudo envolvente, discreto e recortado à moda teatral. E a cor, por definição, vestindo os atores trazendo-os à tona. Os retratos apresentados nesta exposição marcam a sua presença através do tipo e das tradições, alguns com a elegância clássica de Ingres, outros heróis modernos do ringue.

Como uma breve introdução ao trabalho de Fábio Knoll, as fotografias escolhidas poderiam ter se concentrado em seu trabalho em Cortiços, as casas assombradas dos sem-teto tornadas caseiras por pedaços de memorabilia coletada: a arte de rua trazida para dentro de uma decoração abandonada. Prestes a implodir, enquadrados cenicamente, eles não atestam mais a vida, sua presença estranha e silenciosa preservada inestimavelmente.

Uma cortina azul soprada pelo vento; uma sala agora com samambaias sem vida forçando seu caminho pelo chão de concreto: os escombros da destruição. Cenas encenadas por Knoll, adereços em um palco brasileiro.

Antes da fotografia Knoll estudou geografia, vendo neste campo uma abertura para dentro para a geologia, um impulso para a astronomia. Marcas de mundos presentes em seu cotidiano, leis da natureza guiando sua busca pela compreensão do porquê e para que viver.

Fascinado por filmes, Knoll deixa sua marca, lenta mas seguramente, no mundo do cinema. Intensamente envolvido com a estética, o fotógrafo Knoll é também diretor de fotografia, captando através de destreza técnica e clareza de visão a importância dos detalhes, desacelerando a mente permitindo que o pensamento seja permeado de sentimento.


Não apenas acompanho o seu trabalho – parado e em movimento – ao longo dos últimos quatro anos, Fábio Knoll tem-me acompanhado a muitas partes deste país, gravando em filme o que eu mesmo fotografei há cerca de cinquenta e tantos anos, recuperando a memória dos lugares, pessoas e a passagem do tempo. Eu aprecio seu envolvimento e prezo sua presença. Faz diferença!

Maureen Bisilliat / Janeiro de 2016

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Olhares sobre o Cortiço Sesc Interlagos - São Paulo

Em 2010 Fabio Knoll retrata CORTIÇOS, espaços habitacionais de sobrevivência, no centro da cidade de São Paulo. Lugares vivos, pois vividos, atestam permanências pelo acúmulo ou ausência de artefatos, criando ao acaso uma decoração.

Em 2010, Fabio Knoll registra os últimos dias do EDIFÍCIO SÃO VITO, prédio residencial de 27 andares, construído em 1959 na Avenida do Estado na Baixada do Glicério. Mais conhecido como Treme-Treme, visto como uma solução para o problema da moradia popular, com seus mais de 3 mil moradores, chegou a ser considerada a maior concentração populacional da cidade. No entanto este prédio, levantado com a finalidade de abrigar atividades humanas as mais diversas, devido a dívidas e atrasos de pagamentos de contas (IPTU, água. Luz etc.) entra inexoravelmente em processo de degradação.

O EDIFÍCIO SÃO VITO, apelidado pelo povo de Balança mas não Cai, fica totalmente desocupado em junho de 2004; De 2010 a 2011 é realizada sua demolição. Assim, nos últimos dias de sua existência, Fabio Knoll percorre os espaços esvaziados deste cortiço vertical, traçando com grandes recortes quadros de severa abstração. O resultado deste trabalho provoca perturbações de apreciação perversa pela proporção dourada – lei áurea da devastação.

Maureen Bisilliat
28 de novembro de 2011

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Made in Taiwan

O Centro Cultural de Taiwan em São Paulo apresenta, de 07 de julho a 05 de agosto de 2009, a mostra fotográfica “Made in Taiwan”, com 32 obras do fotógrafo brasileiro Fabio Knoll e curadoria de Ricardo Resende.

Geógrafo de formação, Fabio Knoll é um fotógrafo que investiga a particularidade das diferentes culturas que conhece em suas viagens. Já se vão anos desde que começou o minucioso trabalho de registrar o cotidiano de países como Brasil, México e Estados Unidos. Desta vez, partiu em viagem a Taiwan municiado de sua Leica, câmara que considera ideal para esse tipo de registro, uma vez que alia praticidade, discrição e, sobretudo, qualidade de imagem. Foi com ela que ele fez os mais de 800 registros fotográficos durante sua estada de quatro semanas na ilha de Taiwan durante o mês de abril de 2006, o início da primavera naquele país.

Fabio começou sua viagem pela capital Taipei, uma metrópole vibrante com mais de 2,5 milhões de habitantes, e Kaohsiung, outra grande cidade taiwanesa, onde mergulhou no universo riquíssimo de imagens do cotidiano dessa população de cultura milenar que conjuga a tradição e os avanços tecnológicos de maneira surpreendente. Em seguida, rumou para o interior do país, que se mostrou ainda mais intrigante, uma vez que ali, além de não haver praticamente estrangeiros, a população não domina nenhuma língua estrangeira, falando somente mandarim, a língua oficial do país.

“Primeiramente, a gente pensa que é o caos, com aquele monte de coisas acontecendo ao mesmo tempo, porém, prestando mais atenção, percebe-se que as relações entre as pessoas são amistosas e que a aparente desorganização das grandes cidades oculta traços de extrema organização e eficiência no interior das casas e dos edifícios”, elucida Knoll.

Uma das coisas que mais impressionaram o fotógrafo foi a segurança na ilha. “Há uma enorme preocupação com a preservação da honra e o budismo parece permear tudo, o que dá uma enorme sensação de segurança. Se no Ocidente a idéia de honra está ligada à impressão que alguém tem de outra pessoa, ali esse conceito é absolutamente interiorizado, cabendo a cada um zelar pela sua”, explica o fotógrafo, que também surpreendeu-se como fato dos taiwaneses, em sua esmagadora maioria budistas, terem o costume de arrotar em seus templos para purificar seus corpos.

Outro aspecto da vida taiwanesa que muito impressionou Knoll foi a intensa vida noturna das grandes cidades de Taiwan, especialmente os chamados “night markets” ou mercados noturnos, onde, atesta o fotógrafo,“vende-se de tudo, desde comida, utilitários até equipamento eletrônico de última geração”. Eles têm, segundo Knoll, um papel central no cotidiano do país, pois é ali que as pessoas compram o que precisam e se relacionam umas com as outras. Isso fica evidente na curadoria de Ricardo Resende, que fez uma seleção de fotos que privilegiam esse espaço capital na vida dos taiwaneses. Foram esses mercados noturnos que serviram de inspiração para a montagem da exposição, feita com backlights e pouca luz ambiente, trazendo para São Paulo um pouco da atmosfera de contraste entre luz e sombra dessa verdadeira instituição da cultura local.

Ao ver a seleção de trabalhos, um observador mais atento vai notar a recorrência de scooters, uma espécie de lambreta, que é o meio de transporte mais popular da ilha, uma verdadeira instituição taiwanesa que está presente de norte a sul do país.

O resultado do trabalho e da curadoria são imagens que fogem àquilo que poderia ser lido com mero registro etnográfico, revelando de maneira poética o cotidiano do país em cenas de grande lirismo.

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