Cinematografia

Cinematografia é também algo intrinsecamente ligado à personalidade, à forma como você encara a vida e de tudo o que viveu. É algo que emerge de você. Não se trata de “abrir camera”, como se houvesse um mundo “dado” “lá fora”, mas de inter pretação, de incorporação de um ponto de vista. Não é tornar as coisas visíveis, mas, torná-las visíveis de um modo particular. Por isso o estilo é algo muito particular, pessoal, e se confunde com a vida, e se nossa função é interpretar, reproduzir a vida e contar histórias, devemos, antes de qualquer coisa, vivê-la intensamente e com muita atenção. É preciso ter algo a dizer, e dizê-lo em termos visuais, através de luzes, sombras, cores, texturas… Interpretar e representar o mundo envolve decisões, e essas se confundem com a própria forma de viver. Em determinado ponto de minha vida como fotógrafo, comecei a sentir falta de mais elementos para me expressar, e mesmo meus “contatos” ou “positivos” já apontavam para uma tendência de abordagem sequencial, então minha paixão por cinema me conduziu naturalmente para a cinematografia e, embora muito distintas em termos de produção e narrativa, ambas compartilham dos mesmos elementos de sintaxe. Por isso, muito de minha cinematografia aprendi como fotógrafo documental. Tal experiência me ensinou a extrair o melhor daquilo que se tem, do que as circunstâncias oferecem. Na busca por situações no documentário, aprendemos sobretudo com a falta de equipamentos e com as dificuldades, e as melhores soluções geralmente emergem da imaginação, da capacidade de improvisação e da aceitação das sugestões do acaso. Aprendemos com a vida.

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