A ausência de um ponto de vista determinado e fixo deixa a visão livre para atuar a partir de um ponto suspenso e móvel. Essa nova relação com o espaço desperta com a mobilidade do espectador uma sensação de liberdade, além de romper com a relação direta com o real, dissolvendo as possibilidades de identificação. Trata-se de uma nova realidade, uma realidade transformada em um mundo codificado a ser decifrado. A sensação de liberdade, o rompimento com a relação direta com o real, e a necessidade de decodificação de uma realidade transformada vão fornecer os instrumentos conceituais para as primeiras atitudes da abstração na arte, uma superação do humanismo terrestre.
Recentemente, a grande difusão dos drones na sociedade causou um grande impacto na experiência da humanidade com o espaço, uma verdadeira expansão da perspectiva do mundo, acessível, à princípio, a qualquer um. As implicações do uso de drones no mercado audiovisual hoje são imensuráveis. Os drones reduziram os custos de produção de imagens aéreas, simplificando seu uso em produções de cinema e TV, além de proporcionar possibilidades de perspectivas antes impensáveis até para aeronaves.

Particularmente, a descoberta do drone e sua utilização em meus trabalhos foi uma verdadeira revolução na minha experiência do espaço. Os limites de movimento se dissolveram, proporcionando uma sensação única de liberdade e descoberta, ampliando enormemente minhas possibilidades de criação e expressão. Por suas características de vôo, permite ir muito além dos Grandes Planos Gerais ou Establishing shots do cinema, expandindo dinamicamente meus instrumentos de linguagem cinematográfica, e convertendo-se muitas vezes na perspectiva de um travelling, grua ou steadicam.

Como geógrafo, de certa forma já estou acostumado a ver as coisas de uma perspectiva aérea, mas não se trata de ver as coisas de cima. Os drones, enquanto ferramenta, nos permitem ir muito além disso. Como qualquer ferramenta, ela pode ser usada de forma ”mecânica” e artificial. Como linguagem cinematográfica, a utilização de um ponto móvel, quase sem limites de movimento e alcance, nos libera para o que de fato representa a fotografia, uma dança no espaço, uma poesia. Na tela, isso ultrapassa uma mera “gravação” de algo e se traduz em uma interpretação e expressão de uma verdadeira experiência estética.

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